Nestes tempos em que os procedimentos concretistas integraram-se ao cânone, a poesia experimental tornou-se carne de vaca; ganhou em prestígio o que perdeu de potencial crítico. O verso morreu. É com tal ânimo que recebemos Parsona, de Adriano Scandolara, e ele vem como uma lufada de vento fresco ou uma bofetada na cara. Aqui, o experimentalismo não tem nada de inofensivo: de uma apropriação alegórica da lírica de Olavo Bilac em Via Láctea, na qual esta reluz como ruína, desponta uma provocação ambivalente, lâmina de dois gumes. Primeiro, temos a dessacralização do lirismo bacharelesco representado pelos sonetos bilaquianos, mas isto é pouco, é chutar cachorro morto. Percebe-se que tal dessacralização possui um caráter ambíguo, pois ao mesmo tempo que desconstrói atualiza, resgata e dá crédito. A ironia impiedosa é uma forma de levar a sério.
Autor: Scandolara
Editora: Kotter
ISBN: 9788568462218
Ano: 2017
Edição: 1
Páginas: 97
Encadernação: Brochura
Formato: 16 x 22 x 0.5 cm