Antes mesmo de sua publicação em livro, Junco ganhou de alguns de seus leitores um epíteto - a máquina do mundo cão - que parece difícil de descolar desse conjunto de poemas em que Nuno Ramos vem trabalhando nos últimos catorze anos. Não é preciso adivinhar a referência à busca do sentido do mundo, à total explicação da vida que espantosamente se abre aos olhos de um caminhante solitário, ainda que para se recolher, logo em seguida, e sem desfazer o enigma, como no poema de Drummond. A máquina do mundo se expõe diretamente aí em nota e em recortes brevíssimos, encravados nos textos. E se oferece, ainda, como cena primordial - no meio do caminho da vida - que organiza a paisagem marítima infernal - praia, praia, praia, praia - na qual se opera um misto de junção e tensão figural, que estrutura, em via dupla, mas em mútua interferência, a série poética de Nuno Ramos, entre os restos de um cachorro morto largado no asfalto e os de um cadáver de árvore, junco jogado na areia.
Autor: Ramos, Nuno
Editora: Iluminuras
ISBN: 9788573213485
Páginas: 120
Encadernação: Brochura
Formato: 13.7 x 18 x 0.7 cm