O livro de Guilherme Figueira começa descrevendo o velório de um pai de família. Ao contrário da expectativa sugerida pelo cenário, o tom da narrativa se esquiva à solenidade: () não eram muitos os presentes na cerimônia, e Miguel não deixava de pensar nisso, de forma irritada, no que considerava um sinal de desprestígio do morto. Pode-se questionar se é possível um morto sentir-se prestigiado ou não, mas esse era o sentimento de Miguel (). Como o leitor pode ver, essa ficção começa sob o signo da ironia. Segue-se uma espécie de descrição antropológica de um ritual fúnebre. A capela onde é velado o defunto, as capelas vizinhas etc. E, em meio a essa etnografia ficcional, emergem os personagens que compõem a família do morto. A princípio, o cenário parece se sobrepor aos elementos humanos. A ironia, por sua vez, continua a se insinuar nas frestas do texto: Carlos tinha noventa anos. Morreu dormindo, como tantas pessoas sonham em morrer, se é que tantas pessoas sonham em morrer. [...]
Autor: Figueira, Guilherme
Editora: Mórula Editorial
ISBN: 9786561280402
Ano: 2024
Edição: 1
Páginas: 128
Encadernação: Brochura
Formato: 14 x 21 x 0.7 cm